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Populismos e riscos para a Democracia

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  Não gosto de populismos, sejam eles de esquerda, de direita ou de coisa alguma. Mas nem todos, em determinado momento e tendo em conta as circunstâncias que os geram, moldam, e lhes dão acolhimento, representam o mesmo risco para as democracias. Importa ler a realidade e ter sentido crítico para que se perceba que, em determinado momento, o grau de risco que cada um deles representa para as democracias é diferente. Quando se confunde e mistura tudo, pretendendo equipará-los sem ter em devida consideração a leitura da realidade em que se inserem, isso significa que se está a favorecer um deles e, normalmente, o que nesse momento representa maior risco para a democracia. Em vez de um combate cujo foco é o populismo que alastra, dilui-se esse combate numa retórica que mais não faz do que aplanar o caminho a quem está em voga, na mó de cima. Aliás, quem faz esse tipo de equiparações normalmente está ideologicamente mais próximo daquele que representa maior risco para a democracia. Embora

Confusões da Sra Bastonária

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  A Senhora Bastonária da Ordem dos Enfermeiros parece ser propensa a algumas confusões que, diga-se, revelam entendimento muito singular das funções que desempenha. Duvido, na minha modesta opinião, que tal entendimento sirva os interesses da classe que representa enquanto coletivo, incluindo aí os cerca de 60% que não votaram. A Senhora Bastonária parece confundir manifestação de amizade (foro individual) com manifestação de apoio (foro público). Admito que manifestações de amizade possam acontecer no espaço mediático quando a pessoa a quem se dirige se encontre numa situação pessoal (foro individual) em que seja importante, enquanto ser humano, a manifestação desse apoio. Não me parece que fosse o caso. Manifestações de amizade não necessitam do espaço público, muito menos mediático, para serem validadas. Uma outra confusão é a de colocar no mesmo plano a presença pessoal (individual) num evento e a sua presença enquanto representante de uma instituição que, imagino eu, conte no seu

Rui Pinto e o Interesse Público

 Não gosto de justiceiros, nem de quem se julga moralmente superior. Também não penso que tais atitudes possam servir a democracia. O que se arvoram em justiceiros não fazem justiça, aplicam a ideia que eles fazem da justiça, de acordo com os seus valores, preconceitos e visão sobre o mundo e sobre a realidade. Acontece que a justiça e a sua aplicação nas sociedades democráticas são bens coletivos e não individuais. São o distintivo dos valores, morais e éticos, que a sociedade como um todo defende e pratica. Os eventuais desvios são apenas exceções e nunca se podem constituir em regra. Essa forma de olhar é própria das ditaduras, das sociedades destruturadas, sem lei e onde o Estado de Direito é substituído pelo vazio. Não olho para Rui Pinto como um herói, mas também não o vejo como um bandido da pior espécie. Importa colocar as coisas no seu devido lugar e tentar entender a realidade de hoje, sobretudo quando mediada pelas redes sociais e pelos meios tecnológicos hoje massificados.

PÓS PANDEMIA: que mundo desejamos?

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Aldeia Caramulo Não é quando a crise nos bate à porta que se preparam as alternativas, as soluções, pois quando assim é acabam por não ser verdadeiras soluções, mas apenas formas de remediar o inesperado. É como se criasse um atalho para mais depressa se chegar ao caminho anterior. As respostas vão-se preparando ao longo do tempo com persistência e coerência, procurando uma sistematização do que se faz, como se faz e dos resultados obtidos. Importa ter presente, já que é muitas vezes esquecido ou, no mínimo, omitido, que as motivações das pessoas para permanecerem ou não num determinado território são económicas no sentido de terem oportunidades para garantirem o sustento dos seus e um padrão de vida que julguem aceitável face às suas expectativas. Sempre assim foi e assim continuará a ser sendo que apenas as expectativas e perspectivas se vão alterando. Daí que a primeira pergunta seja, independente dos modelos: como se cria economia? Ou, dito de outro modo, como se cria

As Portas que Abril Abriu

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                                                                  As Portas que Abril Abriu                                                                  José Carlos Ary dos Santos Era uma vez um país onde entre o mar e a guerra vivia o mais infeliz dos povos à beira-terra. Onde entre vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras um povo se debruçava como um vime de tristeza sobre um rio onde mirava a sua própria pobreza. Era uma vez um país onde o pão era contado onde quem tinha a raiz tinha o fruto arrecadado onde quem tinha o dinheiro tinha o operário algemado onde suava o ceifeiro que dormia com o gado onde tossia o mineiro em Aljustrel ajustado onde morria primeiro quem nascia desgraçado. Era uma vez um país de tal maneira explorado pelos consórcios fabris pelo mando acumulado pelas ideias nazis pelo dinheiro estragado pelo dobrar da cerviz pelo trabalho am

Festejar Abril: Afirmar a democracia

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Banda Desenhada editada  pela Câmara Municipal de Santarém,  1999,  com ilustrações de António Martin s O 25 de Abril deve ser comemorado e, cada à sua maneira em tempo de pandemia, deve ser festejado. Tratando-se de uma comemoração, esta serve para nos recordar, por um lado, esse marco histórico coletivo que determinou e moldou o nosso presente e, por outro lado, desperta-nos para o facto - fortalece-nos a consciência - de que o caminho então iniciado deve continuar a ser percorrido sem que na caminhada percamos o que de mais precioso abril nos trouxe: a Liberdade . Comemorar Abril alerta-nos para a impossibilidade de darmos como garantidas a liberdade e a democracia e que as concessões que porventura se vão fazendo abrem brechas no edifício democrático sempre sujeito às investidas dos oportunistas que dele tiram partido. Quem nega festejar Abril nega na verdade a democracia e a liberdade que lhe permitem ter voz e espaço público. E acredito que haja muitos que não desejem

NÃO ME DIGAM QUE NÃO TEM IMPORTÂNCIA

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Sobre as eleições do último domingo (06 de outubro) não faltarão os comentários e a especulação sobre eventuais soluções, tendo alguns jornalistas/comentadores, ainda na noite de ontem, profetizado a desgraça e disfarçando mal o azedume de uma derrota, com mais ou menos cor, de Rui Rio. O PSD perdeu não por ter uma percentagem inferior ao PS, mas por lhe ser impossível construir no momento qualquer alternativa de direita. Mas deixemos o assunto para os entendidos no comentário político, mesmo se encapuçado de jornalismo imparcial.  Sobre os resultados - sem os inscritos no estrangeiro - gostaria apenas de sublinhar alguns aspectos que me parecem relevantes. 1. A abstenção passou de 43% em 2015 para 45,5%, o que significa 191 410 votantes a menos, feitas as devidas correcções do número de votantes, uma vez que havia cerca de menos 96 600 inscritos. O número de votantes aumentou se considerarmos os automaticamente recenseados no estrangeiro. Este é um problema que exige uma re